quinta-feira, agosto 03, 2006

Consciência

"Fiat Lux" - o despertador alarmou pela primeira vez e o Big Bang mandou o Universo pelos ares. E pelos ares ele se expandiu, dilatando correntes, pêndulos e engrenagens, numa dança em que o Tempo e o Espaço deslizam pelo enorme salão numa coreografia harmoniosa de dançarinos clássicos, ou pisam-se mutuamente os pés, quais parceiros trôpegos a lembrar gêmeos siameses recém-separados. Tudo a depender de quem olha. Com olhar sóbrio, tudo é harmonia. Com os olhos embaçados ou etílicos, tudo é inarmonia e desordem.
É assim, no Universo e no Microverso de cada um. Tudo está em tudo. E o que sofro em mim, sofro fora, impregnando meu senso de existência, minha participação no ambiente e ele próprio. Sou o fiel da balança, o diapasão que harmoniza meu ser/estar no mundo com o mundo que existe em mim.
Hoje, as estrelas são engrenagens choradas pelos céus. Dentro e fora de mim, o Relógio se desmonta, numa sincronia de assombro, admiração e tristeza, mas também estesia. É inevitável. Não posso fugir dos dedos que ajustaram essas cordas, o Relojoeiro me põe onde quer. Dispõe-me sobre o veludo de acordo com as necessidades da Máquina e as minhas - que nem todas sei - e, assim, eu mesmo me ressignifico, ganhando sentido.
Sobre o mesmo pano, o ponteiro que marca a solidão incomoda-me, porque sou solidão entre as peças. Ele pesa nos ombros e nas maçãs do rosto - e cada vez mais em meus olhos úmidos, enquanto meu sangue vai no descompasso que lhes demarca a inimizade, alimentada por uns vôos descuidados do meu beija-flor cordial. Dou-me conta do imenso espaço que separa umas e outras peças desse imenso maquinário. E de como espaço é solidão.
Um átimo de segundo depois, no presente em que agora estou e que está passando, percebo que no espaço há prologamento de mim para os outros. O que está em mim, está no outro, pois, como disse: "Tudo está em tudo". Ressignifico a frase. Ressignifico a vida.
As estrelas são engrenagens que cantam a glória de Deus. Dentro e fora de mim, o Relógio se organiza, numa sincronia de assombro, admiração e plenitude - e também de estesia. É inevitável, o Relojoeiro me põe onde quer que EU queira. E com Ele, disponho as peças no veludo, porque necessito, por mim e para Ele, organizar a Máquina.
Tudo num átimo de segundo depois.
...
E nada mais é solidão.