terça-feira, abril 25, 2006

O Que Há De Errado Com Meu Coração?

Meu Coração anda descompassado. Parece que vai sair pela boca. Acho que é aquela velha brisa voltando, só que de cara nova. É tão bom que esteja assim...
O problema é que, na intimidade de minha governança, meu Cérebro, um Ministro da Defesa austero e conservador, continua em conflito com ele. Parece que nunca vão chegar a um acordo satisfatório, a um armistício promotor da paz interna.
Enquanto isso, fico entre os portentosos golpes que desferem um no outro e acabo me defendendo, mesmo sem querer. Graças a isso, a dissonância cognitiva róe-me, por dentro, ao parir, em mim, a incerteza. É difícil decidir assim. Vejo, percebo e sinto muitas coisas de um ângulo incerto. Assim, ouso quando deveria recuar, recuo quando deveria ousar e, mesmo agindo, permaneço estático, sem avançar o quanto gostaria. É um acordo difícil de estabelecer, um equilíbrio distante. Não sei quando vou conseguir.
O primeiro, arauto da minha intimidade, quer divulgar decretos novos, mandamentos para um novo governo, suave e arrebatador. Argumenta serem imprescindíveis diretrizes condizentes com um novo tempo de promoção da liberdade para a manifestação plena da delicadeza, a fim de que meu reino se encha de estesia e significado. O segundo, intimida-me com sua coerção ideológica e suas análises críticas sobre meus postos de fronteira, dizendo ser todos frágeis e desprovidos de dados dos imigrantes que pretendem - ao que parece - entrar. Outro dia disse-me: "Toda brisa principia um furacão. É preciso ter cuidado!". Meu Coração, por outro lado, afirma-me: "Todo furacão saneia o ar, tornando-o agradável. É imprescindível se arriscar!"
Eis meu imbróglio diplomático. Meu paradoxo interno. A quem ouvir? Não sei. Ainda não sei. Mas saberei, em breve.
Porém, penso: "O que pode haver de errado com meu Coração e sua agradável proposta?" Preciso de mais conselheiros, gente de minha confiança ao meu lado, nessa hora. Por isso, caro leitor, pergunto-lhe: "O que há de errado com meu Coração?"

domingo, abril 09, 2006

Noturno

Estou ouvindo "Noturno", de Frédéric Chopin. Com ouvidos ignorantes, eu sei. Mas tenho a impressão que Chopin a compôs para mim. Só para mim. Toda vez que a ouço, choro. Às vezes, por fora. Sempre, por dentro.
Algo, que não consigo e nem quero explicar, ressona no fundo de minha alma, trazendo-me uma delicadeza perdida nas areias do tempo, na escuridão das noites, no movimento pendular e inclemente dos relógios. Algo que está perto. Algo que está aqui, dentro de mim. Algo que precisa sair e ir ao encontro da Humanidade inteira.
É mergulhado nos acordes de "Noturno" e entre as lágrimas que brotam tímidas dos meus olhos, delicadas como a minha alma tocada pela alma delicada de Chopin, que escrevo e componho uma sinfonia suave e retumbante, que enche a minha existência de significado e de importância.
Chopin, sinto, atravessa Varsóvia sitiada, as luzes da sua amada Paris, o tempo, a sombra densa das noites, entra em meu quarto íntimo e sussurra suas notas sutis, que confundo com sua voz a me dizer: "É imprescindível que você esteja aqui".
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O Noturno de Chopin referido no texto acima é o de nº 9.