terça-feira, novembro 11, 2008

Sobre Crocodilos e Pessoas

“Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado.” (Winston Churchill)


Eu acrescentaria à frase de Sir Winston Churchill a idéia de alimentar o referido réptil para um dia ter a oportunidade de transformá-lo num belíssimo sapato, só para ter o prazer de pisar nele, ou de convertê-lo numa bolsa, mostrando ao bicho o quanto ele é “vacilão”. Mas aí eu teria que alterar a definição inicial, porque um apaziguador não faria isso. No entanto, um apaziguador não é um sujeito inativo. Ele age. Principalmente quando quer pacificar a consciência. Nesse momento, porém, nem sempre é bem visto pelos demais. Sobretudo por aqueles acostumados com suas posturas anteriores, muitos deles, indivíduos que o atingiram em cheio em seus comezinhos direitos. Atualmente, sei bem o que é isso. Decidi não alimentar mais os meus crocodilos. Uma reptiliana hostilidade era o mínimo que poderia deles esperar. Paciência.
Resolvi por ordem na casa, finalmente. Estou dissipando a cortina de fumaça de comodismo e inatividade com que encobri problemas inadiáveis e, como era de se esperar, comecei a enfrentar dificuldades. As pessoas não gostam de gente decidida, gostam dos “bonzinhos”, dos políticos da boa vizinhança. Dos que calam para não incomodar, dos que possuem ouvidos moucos, dos que nada vêem. Enquanto ficamos no nosso canto, aceitando tudo e permitindo que as ações alheias direcionem a nossa existência, tudo são paz e tranqüilidade e as pessoas não nos agridem publicamente. Preferem zombar de nós às nossas costas, gozando o prazer fugidio dos crimes que a nossa inércia permitiu contra nós perpetrassem, ao mesmo tempo em que admiram, ironicamente, o nosso pacifismo mentiroso. Mas, basta começarmos a organizar as nossas coisas, assumindo atitudes novas e não compartilhando com esses algozes que elegemos velhos erros, não mais aceitando o seu “fogo amigo”, a buscar a satisfação de nossos direitos por eles aviltados no pretérito, que nos convertemos, no imaginário dessas criaturas egoístas, nas mais frias, cruéis, vingativas e grosseiras criaturas. (Como as pessoas gostam de facilidades!)
Decidi enfrentar adversários face a face. Não aceito mais ser direcionado por ninguém e nem me permitir esperar pelos outros para ser feliz. Estou caminhando e pronto. Cada um então que aprenda a lidar com o meu passo decidido e interprete os meus movimentos conforme os seus próprios humores e a sua percepção cinemática. Não tenho que me preocupar com isso. Devo, isso sim, permanecer atento às transformações que necessito fazer, sem perder contato com o Código de Ética ínsito em minha consciência, e que sempiternamente me dirige – e me educou a respeitar o próximo. Não o entendia totalmente. E nem o entendo ainda. Hoje, todavia, sei que respeitar o próximo é educá-lo, muitas vezes com firmeza. Ser bom não é ser conivente com o desrespeito, com a prepotência, a soberba, a falsidade, a ingratidão, a venalidade, o comodismo, o utilitarismo, a pusilanimidade, a manipulação e tantos outros equívocos que somos passíveis de cometer, por negligência, imperícia e imprudência. Mas que são cometidos por muita gente movida pela indolência, essa violenta insensibilidade moral que caracteriza os ensimesmados sistemáticos e vitimistas.


Mesmo assim, de jeito nenhum estou disposto a usar sapatos e bolsas feitos com o couro dos incautos que se imaginam espertos.
Ser bom é, também, ser misericordiosamente austero.

domingo, novembro 02, 2008

Dia D

É madrugada. Mas hoje será o dia em que tomarei uma das decisões mais difíceis de toda a minha vida - que não tem a ver com o post anterior. Será doloroso. No entanto, o problema exige solução grave e não posso mais recuar. Fiz o que pude. Tentei conscientizar uma das pessoas que mais amo na vida sobre a sua postura inadequada, que acabaria por causar uma grave ruptura entre nós. Mas, ela não quis. Desconsiderou tudo que vivemos. Os momentos de dificuldade. Os de companheirismo. As coisas que lhe ensinei sobre valores e posturas auto-preservativas. Os nossos diálogos sempiternos. Preferiu rasgar o protocolo. Roer unilaternalmente a corda que nos imanta. É triste, mas devo respeitar sua decisão. Respeitar e seguir em frente. Resolver de vez a retirada de algumas espículas persistentes que o meu descaso travestido de amor paternal não quis pontualmente arrancar. Vai ser doído. Muito doído. Nunca mais serei o mesmo.
Todavia, o meu amor é eterno.
PS: Ninguém cria um bebê para vê-lo, mais tarde, se matar, gratuitamente. Eu não criei.