Estou sentado no cais, em frente a um horizonte cinza. Há um ponto luminoso, é bem verdade, mas tênue e distante demais. A procela é densa e não enxergo bem. Nenhum barco vem, nenhum barco vai. Portanto, não há notícias a comunicar os dois pontos.
Sinto, em minhas mãos fechadas e em meu peito arfante, as dores de umas agulhas que caem do céu com a força das flechas saídas dos arqueiros mais selvagens e odiosos que me desejariam atingir. Cada choque é um furo, cada furo, um vazio. Há frio em minhas roupas e botas – e nos meus cabelos encharcados; na febre incessante de meus olhos; nesse inverno imenso que é só meu.
Mesmo assim, permaneço sentado e calmo, a contemplar o que talvez jamais possa atingir. Perscruto o oceano de mim mesmo buscando encontrar a razão que me faz permanecer aqui, parado no porto. Ele nada me responde, por enquanto. Apenas na casca de noz da consciência que sobre ele flutua, o amor se agarra, calejado e em sangue, tentando não naufragar nas incertezas e vacilações dessa distância triste.
De novo, miro o horizonte.
Aqui dentro, a dúvida. Talvez eu pule, talvez eu fique.