quarta-feira, junho 14, 2006

À Deriva


Estou sentado no cais, em frente a um horizonte cinza. Há um ponto luminoso, é bem verdade, mas tênue e distante demais. A procela é densa e não enxergo bem. Nenhum barco vem, nenhum barco vai. Portanto, não há notícias a comunicar os dois pontos.

Sinto, em minhas mãos fechadas e em meu peito arfante, as dores de umas agulhas que caem do céu com a força das flechas saídas dos arqueiros mais selvagens e odiosos que me desejariam atingir. Cada choque é um furo, cada furo, um vazio. Há frio em minhas roupas e botas – e nos meus cabelos encharcados; na febre incessante de meus olhos; nesse inverno imenso que é só meu.

Mesmo assim, permaneço sentado e calmo, a contemplar o que talvez jamais possa atingir. Perscruto o oceano de mim mesmo buscando encontrar a razão que me faz permanecer aqui, parado no porto. Ele nada me responde, por enquanto. Apenas na casca de noz da consciência que sobre ele flutua, o amor se agarra, calejado e em sangue, tentando não naufragar nas incertezas e vacilações dessa distância triste.

De novo, miro o horizonte.

Aqui dentro, a dúvida. Talvez eu pule, talvez eu fique.


6 comentários:

Anônimo disse...

Enquanto você está neste seguro porto, pense naqueles que se enfraqueceram e resolveram enfrentar esse oceano tortuoso com os simples esforços dos seus braços em uma viagem fadada ao fracasso. Aguarde pacientemente a sua embarcação que ela virá! Você não está à deriva! Estão nesta condição aqueles que não se precaveram para a viagem que os aguardava. A angústia, a ansiedade e o orgulho ferido pela necessidade de enfrentamento dessa situação faz de nós seres humanos criaturas frágeis diante dos problemas. Muita perseverança! Muita luz!

Anônimo disse...

É incrível como sentimos tanto a vontade de alcançar algo q desejamos e q está tão aparentemente distande, não é??
Melhor é sentir essa vontade, esse anseio e se deleitar nesse percurso. Sempre olhando o q se deseja de longe...
É. Somos contraditórios conosco, pq qdo conseguimos nos aproximar do algo desejado, qdo o alcançamos, finalmente, depois de uma árdua e demorada luta, descobrimos q o melhor de tudo foi o "buscar".

Anônimo disse...

O que tanto almejamos
Qundo remamos por um ideal de felicidade?
Será que ainda está em moda?
Sempre nos colocamos a prova
Quando a acorrentamos.
A deixamos morrer na praia
ou vivemos quase que rastejantes
Parece se mostrar tão distante
Muita além do nosso horizonte
Ficamos a deriva...

Nos bastaria um porto seguro,
Para soltarmos uma grande VIVA!
Navegar por águas plenas
tranguilas e serenas!

Temos que mergulhar na perfeição?
Ou não existe um porto para nossa solidão?
Embarcamos em oceanos imaginários
Vivenciamos nosso próprio cenários
Remando ás vezes contra a maré

Não arriscamos quando ela está alta
Atracamos uma vez ela baixa
Desistimos se parece morta
Nossos desejos vão se ancorando...
Nossos sonhos se afundando...
E em imensas areias mornas
A felicidade vai se enterrando.

Ricko, querido esteja sempre em alerta para essa maravilhosa búsola intuitiva que tras em você.
Navegue muito, mas sempre alcore em um Porto - Seguro.
Beijo grande,
Lila

Rafael Melo disse...

Eu, em seu lugar, pularia. Mesmo que me arrependesse amanhã (se houvesse tempo). Talvez por falta de contemplar o crepúsculo e outros detalhes que à primeira vista me parecem irrelevantes. Acho que tenho de voltar a filosofar.
Pra evitar a fadiga.

PopZen disse...

Não quero interpretar... apenas elogiar a perfeição da escrita mesmo. Belíssimo!
E a idéia do livro, hein? Não falou mais a respeito...

Anônimo disse...

É... O mar nos impressiona tanto pela sua grandeza e pela sua consciência de limite (esta, que muitas vezes, se perdeu)nos põe a refletir sobre a vida e o significado dela para cada criatura de Deus. O que fazer com ela? Qual o seu propósito?
Somos, como o mar e todas as outras criações de Deus, seres que têm um motivo para estarmos aqui... Qual será ele? É o que tentamos descobrir admirando o mar...