“Vou deixar, dentro de mim, todas as coisas desvanecerem e perderem o sentido mesquinho que têm. Vou andar mais livre e ser menos disponível a gente específica. Estarei disponível à vida. Serei, quanto puder, onipresente, sem ser visto. Estarei nas lembranças de cada qual, mas nunca mais tão presente quanto hoje. Não fisicamente.
Não decorarei nomes. Nem de lugar, nem de pessoas, nem de nada. Renegarei, com todas as forças de minha alma triste, a prodigiosa memória que arrasto, vida a fora, pois minha memória é apenas solidão. Vomitarei, para bem longe de mim, todas as minhas crenças, aliviando meu estômago de todo esse nojo. Relegarei ao crepúsculo toda minha identidade, que não significa nada.
Descalçarei minhas sandálias, tirarei minha camisa e andarei ao Sol, trôpego, ridículo e anêmico, na esperança de que Deus me encontre. Nunca mais voltarei aqui, amigo. Adeus.”
Foi tudo o que ele me disse. Virou-me as costas e saiu. Até agora acompanho, no espelho que guardo aqui dentro, seu vulto triste, uma mortalha sombria carregando o peso colossal da incompreensão nas costas, contrastando em tudo com a estuante manhã, lá fora, e com a praia dourada, estrado concedido por Ele aos seus pés rachados e chumbados num nada aberrante.
É estranho, foi como profecia. Ele está aqui, mas não está. Nunca mais. Não do mesmo jeito.
Não decorarei nomes. Nem de lugar, nem de pessoas, nem de nada. Renegarei, com todas as forças de minha alma triste, a prodigiosa memória que arrasto, vida a fora, pois minha memória é apenas solidão. Vomitarei, para bem longe de mim, todas as minhas crenças, aliviando meu estômago de todo esse nojo. Relegarei ao crepúsculo toda minha identidade, que não significa nada.
Descalçarei minhas sandálias, tirarei minha camisa e andarei ao Sol, trôpego, ridículo e anêmico, na esperança de que Deus me encontre. Nunca mais voltarei aqui, amigo. Adeus.”
Foi tudo o que ele me disse. Virou-me as costas e saiu. Até agora acompanho, no espelho que guardo aqui dentro, seu vulto triste, uma mortalha sombria carregando o peso colossal da incompreensão nas costas, contrastando em tudo com a estuante manhã, lá fora, e com a praia dourada, estrado concedido por Ele aos seus pés rachados e chumbados num nada aberrante.
É estranho, foi como profecia. Ele está aqui, mas não está. Nunca mais. Não do mesmo jeito.
8 comentários:
Meu coração curvou-se reverente.
Parece mesmo que o "adeus" leva sempre com ele bem mais do que a presença de alguém ou alguma coisa. Vai parte de nós, do que somos, do que fomos e do que achávamos que acreditávamos. Eis o desapego das coisas e dos sentimentos.
Belíssimo texto!
Beijocas!
Ué???
O cara se matou???
É meu amigo... Você parece ter o dom de transpor em palavras, sentimentos que normalmente as pessoas sufocam... É... parece que você escreve com a mesma tranqüilidade com que conduz os bate-papos do TE! A gente nem percebe, mas quando dá por si, você já conseguiu de nós uma confissão ou uma reflexão bem profunda. Seu texto foi como um bálsamo para minha alma, coração e cabeça, ultimamente tão tumultuados...
Um grande beijo e que Nosso Pai amado continue te abençoando!
Renata Gusmão
Gostaria muito de poder mudar, esquecer, abandonar aos que me abandonaram por um instante para esquecer a tristeza sem necessariamente sufocar meus instintos e aumentar a dor na alma.
Mas não tenho coragem de dizer Adeus. Não guardo dentro de mim a certeza da despedida, e ao mesmo tempo fujo contra minha vontade das coisas e pessoas que me atraem.
Devo ser louca por conseguir viver nessa contradição, tentando compreender normalidade ao me comparar com o oposto do que acredito.
Sem saber me despeço, e aos poucos vou morrendo sem ao menos dizer Adeus.
Leslie
Curioso!
Estava pensando em Gandhi e queria que ele me dissesse alguma coisa...
Ai... coloquei meio brincando... Desapego e Gandhi...
E caiu nesta pagina...
Que disse tanto...
E voltei a Bahia...
Nossa! É a primeira vez que visualizo este blog, com este texto você virou meu Guru (rs) Fantástica TEORIA DO DESAPEGO que tanto procurava e encontrei em suas palavras. Se me permite virei sua fã.
Obrigado, Silvana. Seja bem-vinda!
Muito lisonjeiro de sua parte o comentário, mas estou longe de poder sonhar em ser guru de alguém. (Se tiver um blog, deixe o seu contato. Ou se não tiver também.)
Grande beijo!
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