Atual, muito atual, em minhas reflexões.
segunda-feira, março 24, 2008
segunda-feira, março 17, 2008
Olhos Azuis
"Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia." (William Shakespeare)
Foi incrível, pensou o menino. Ele caminhava trôpego pela rua, arrastando o cansaço no corpo e na alma como se todas as obrigações graves da face da Terra estivessem sob sua responsabilidade. O suor ardente a escorrer pela testa e a entranhar-se nos olhos avermelhados compunha, com o cenho carregado, uma imagem sofrida. De repente, o milagre. Viu-se, em plena luz do dia, sob um halo azul descido dos céus. Um dente-de-leão, soprado por algum menino-anjo, puro como ele nunca fora, deixou pender da abóbada celeste uma pétala branca luminescente que, len-ta-men-te, flutuou, frente a ele, em arabesque. Ele ficou ali, pela eternidade de alguns segundos infindáveis, olhando para ela, namorando-a. Até entender que aquilo era um recado de Deus. Desses que apenas ressonam na alma do destinário, e em nenhuma mais. Então, ergueu os olhos e viu-a, à meia distância, mas se aproximando. Os olhos dela num alinhamento perfeito com a pétala. Os dois azuis num conjunto harmonioso e perfeito. Ele abismou-se. Perdeu a voz. Ela percebeu.
Em seguida, ela se virou e foi saindo. Estacou antes de completar o segundo passo, porém. Voltou-se para ele, de soslaio, e sorriu-lhe um sorriso charmoso. O menino também sorriu. Ambos ergueram as sobrancelhas, ao mesmo tempo. E ele pensou, finalmente: "Só pode ser ela!". Misteriosamente, notou que ela se fez a mesma pergunta, despertada pelo ato instintivo que julgavam tão particular, mas que era comum aos dois. Descontraíram-se, depois. Ela lhe disse, com uma expressão entre misteriosa e sedutora: "Tudo bem?". "Tudo", foi a resposta, tímida. Ela saiu, então.
Todavia, estacou e voltou-se, do mesmo jeito anterior: "Acho lindo timidez, é charmoso. Tchau." Ele sorriu, cabisbaixo e ainda mais tímido. Mas reagiu, ergueu a cabeça e olhou-a nos olhos, confiante como sempre, apesar dessa terrível marca de nascença: "Acho lindo olhos azuis. Tchau."
Cada qual rumou para o seu canto, imediamente nostálgicos, certos de não ser aquela a primeira vez. Nem a última.
Foi incrível, pensou o menino. Ele caminhava trôpego pela rua, arrastando o cansaço no corpo e na alma como se todas as obrigações graves da face da Terra estivessem sob sua responsabilidade. O suor ardente a escorrer pela testa e a entranhar-se nos olhos avermelhados compunha, com o cenho carregado, uma imagem sofrida. De repente, o milagre. Viu-se, em plena luz do dia, sob um halo azul descido dos céus. Um dente-de-leão, soprado por algum menino-anjo, puro como ele nunca fora, deixou pender da abóbada celeste uma pétala branca luminescente que, len-ta-men-te, flutuou, frente a ele, em arabesque. Ele ficou ali, pela eternidade de alguns segundos infindáveis, olhando para ela, namorando-a. Até entender que aquilo era um recado de Deus. Desses que apenas ressonam na alma do destinário, e em nenhuma mais. Então, ergueu os olhos e viu-a, à meia distância, mas se aproximando. Os olhos dela num alinhamento perfeito com a pétala. Os dois azuis num conjunto harmonioso e perfeito. Ele abismou-se. Perdeu a voz. Ela percebeu.
Em seguida, ela se virou e foi saindo. Estacou antes de completar o segundo passo, porém. Voltou-se para ele, de soslaio, e sorriu-lhe um sorriso charmoso. O menino também sorriu. Ambos ergueram as sobrancelhas, ao mesmo tempo. E ele pensou, finalmente: "Só pode ser ela!". Misteriosamente, notou que ela se fez a mesma pergunta, despertada pelo ato instintivo que julgavam tão particular, mas que era comum aos dois. Descontraíram-se, depois. Ela lhe disse, com uma expressão entre misteriosa e sedutora: "Tudo bem?". "Tudo", foi a resposta, tímida. Ela saiu, então.
Todavia, estacou e voltou-se, do mesmo jeito anterior: "Acho lindo timidez, é charmoso. Tchau." Ele sorriu, cabisbaixo e ainda mais tímido. Mas reagiu, ergueu a cabeça e olhou-a nos olhos, confiante como sempre, apesar dessa terrível marca de nascença: "Acho lindo olhos azuis. Tchau."
Cada qual rumou para o seu canto, imediamente nostálgicos, certos de não ser aquela a primeira vez. Nem a última.
terça-feira, março 11, 2008
Um Pouco Sobre Mim - Um Pouco Sobre A Morte
Não queria - e nem consegui - falar sobre a morte de minha irmã, Cristiane, ocorrida no último 27 de fevereiro, às 06:55 h. Tivemos, lado a lado, uma existência interessante, rica em acontecimentos, em dores pessoais compartilhadas, em conflitos há muito resolvidos. Ela é mais uma pessoa com a qual solucionei, vis à vis, problemas pessoais, e pude ir em frente, sem culpa.
Nos últimos anos éramos bons amigos, embora extremamente diferentes. O ponto convergente era - e é - o temperamento forte. Ela espontaneamente, eu, quando provocado. Não costumo deixar para depois nem atacar pelas costas. Só não sou direto quando percebo que a pessoa não vai suportar. Não cofundo assertividade, veracidade e autenticidade com falta de educação e grosseria. Apiedar-se das fraquezas humanas é nobre. Ao menos nisso quero ter nobreza de caráter. Mas voltemos à Morte e sua freqüentação recente ao meu entorno.
Muita coisa tem morrido em mim, como morre a semente de trigo para gerar a espiga, e essa mesma, a fim de gerar o pão; como morrem as lagartas; como morrem as estações; como morrem as idéias. Morreram pessoas, morreram gestos, morreram palavras, morreram sorrisos, mas também morreram lágrimas, acessos de ira, violência mal disfarçada, desculpas. Morreram "meu silêncio, meu medo da morte". Eu próprio morri.
Penso, e sou, hoje, bem diferente do que fui. As experiências tornaram-me melhor, com uma visão mais apurada das coisas, de alguns fatos humanos. Percebo-me mais apto, mais forte e mais feliz. Mais inteligente, porque mais moralizado.
Pensando assim, a morte não é nada prejudicial. Basta enxergar o essencial, "invisível aos olhos".
Pensando bem, a Morte também morreu.
Mas essa há bem mais tempo.
Nos últimos anos éramos bons amigos, embora extremamente diferentes. O ponto convergente era - e é - o temperamento forte. Ela espontaneamente, eu, quando provocado. Não costumo deixar para depois nem atacar pelas costas. Só não sou direto quando percebo que a pessoa não vai suportar. Não cofundo assertividade, veracidade e autenticidade com falta de educação e grosseria. Apiedar-se das fraquezas humanas é nobre. Ao menos nisso quero ter nobreza de caráter. Mas voltemos à Morte e sua freqüentação recente ao meu entorno.
Muita coisa tem morrido em mim, como morre a semente de trigo para gerar a espiga, e essa mesma, a fim de gerar o pão; como morrem as lagartas; como morrem as estações; como morrem as idéias. Morreram pessoas, morreram gestos, morreram palavras, morreram sorrisos, mas também morreram lágrimas, acessos de ira, violência mal disfarçada, desculpas. Morreram "meu silêncio, meu medo da morte". Eu próprio morri.
Penso, e sou, hoje, bem diferente do que fui. As experiências tornaram-me melhor, com uma visão mais apurada das coisas, de alguns fatos humanos. Percebo-me mais apto, mais forte e mais feliz. Mais inteligente, porque mais moralizado.
Pensando assim, a morte não é nada prejudicial. Basta enxergar o essencial, "invisível aos olhos".
Pensando bem, a Morte também morreu.
Mas essa há bem mais tempo.
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