Deixe o tempo pensar as feridas,
secar as lágrimas, consolar os tristes,
soerguer os caídos.
Deixe o tempo confundir os orgulhosos,
baguncear os prognósticos, iludir os relógios,
surpreender os projetos.
Deixe o tempo abraçar o espaço,
envelhecer os que já velhos nasceram,
renovar os que se renovam a cada dia,
penetrar a estupidez profunda,
gestar, em si, a sabedoria.
Deixe o tempo beijar as rugas,
acariciar os doridos calos,
embalar os filósofos e encantar os poetas,
ninar na alvorada as crianças
e despertar, à noite, os homens para a guerra.
Deixe o tempo carcomer as estátuas dos mártires,
embolorar os livros profanos - e os que a si se chamam sagrados -,
alvejar os cabelos paternos e acirrar a rebeldia dos filhos.
Calcificar as idéias mortas, soterrar os planos abortados,
necrosar os tecidos sociais da moral de circunstância
e estabelecer a Ética futura.
2 comentários:
Esse texto é seu, Ricardo?
Nossa! Posso usá-lo qualquer hora dessas?
Abraço! Deixe-me passar para o próximo post. Depois de tanto tempo....
Certa vez ouvi a seguinte frase:
"O tempo não cura, desloca o incurável do centro de atenção."
Esse seu texto veio a reafirmar a idéia de que só tempo é mesmo capaz de redirecionar-nos.
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