sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Ironia

Eu e minha psicóloga - eu já tive uma, por pouco tempo e de graça, mas tive - conversávamos sobre a minha procrastinação, que me atormentava terrivelmente.
- Como se sente? - perguntou-me ela.
- Angustiado. Não consigo fazer nada no prazo correto. Finalizar projetos, chegar em tempo nos compromissos. É horrível isso.
- Na sua opinião, por que se comporta assim?
- Não sei, ao certo. Às vezes, indisciplina. Outras vezes, mania de perfeição.
- Como se sente quando precisa fazer algo a prazo certo?
- Física ou psicologicamente?
- Os dois.
- Fico mentalmente agitado. Sinto o peso do mundo inteiro nas costas. Meus músculos ficam tensos. E, de tão agitado, não faço nada.
- Hum... O que já tentou a respeito?
- Comprei um livro de duas psicólogas norte-americanas sobre o tema.
- Já o leu?
- Todo, não. Dei uma parada e o coloquei na estante.
- Isso não é o fim do mundo. Há quanto tempo foi isso?
- ... Uns dois anos.
- ?????

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Para Uma Boa Memória

Não feche as portas atrás de você.
Não queime as pontes, nem incinere os passaportes -
- Talvez você precise voltar.

Não rasgue as fotografias
Nem queime os mapas,
Não dispense, jamais, os guias.
Rostos amigos, terras de promissão ou conhecidas
São sempre um bom refúgio nos momentos de cansaço.

Não destrua sua bússola,
Não perca o rumo do vento.
Ainda que haja tempestade,
As irrevogáveis leis da Natureza
São sempre um norte seguro,
Na vida de todos nós.

Não cuspa no prato que comeu
Nem desonre o solo que pisar.

É deselegante não sentir gratidão.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Divagações

Permito-me divagar sobre o que faz dos blogs um meio de comunicação interessante, na opinião dos blogueiros. Alguns chegam a tê-los como meio de tratamento de suas angústias, anseios mal controlados, melancolias etc. Mesmo leigo no assunto, considero a livre associação de idéias e o respectivo registro delas que eles, os blogs, permitem, uma maneira de perceber os caminhos que as informações do entorno tomaram, rumo à vala do esquecimento ou das dissimulações, ao serem percebidas pelo ser cognoscente. Sobretudo quando, depois de algum tempo, o sujeito, por intermédio da releitura de algum post seu - ou mesmo de outrem -, rememora sentimentos e sensações que lhe eram vivos quando registrou aqueles escritos em seu sensório pela primeira vez. E é um fenômeno que pode ser enriquecido ainda mais, graças ao compartilhamento de informações entre o blogueiro e seus comentaristas. E os há bons e maus, atentos e desatentos.
Alguns comentários são fruto de um olhar especial do leitor sobre o que foi escrito e demonstram que ele observou detalhes muitas vezes só revelados pelo metadiscurso, pelas entrelinhas do texto. Neste caso, verifica-se um fenômeno de empatia que amalgama leitor e escritor (sem querer com isso macular tão sagrada palavra) numa mesma psicosfera de curiosidade reverente, contribuição/retribuição, interesse e aprendizado. Mesmo nos casos dos textos humorísticos, com os quais implicam os amargos de sempre.
É instigante o encontro de pessoas e mentes diferentes através de textos que falam da intimidade velada ou escancarada de cada um, e, ao mesmo tempo, tão acessíveis. Este processo de comunicação possibilita, de alguma forma, a evolução dos indivíduos, conforme suas ações e reações diante do instrumento em questão, porque propiciam a evolução de suas idéias, por meio do debate ou mesmo da mera conversa movida por algum tipo de afetividade. Porém, há muito desperdício de espaço nos comentários desses diários eletrônicos.
Há muitos blogueiros-celebridades. Defino melhor: o blogueiro-celebridade (uma versão deles são alguns donos de fotologs) é o que entende essa mídia como um grande e mais liberal ainda Big Brother e querem aparecer a qualquer custo. Deixam comentários (ou seriam petições desesperadas?) nos blogs alheios apenas para que os outros comentem nos seus e assim aumentem o seu ibope. Mas, como todo programa cuja meta é simplesmente a quantidade, sua qualidade é discutível, infelizmente. No entanto, as pessoas gostam, o que se há de fazer?
Adaptando o pensamento de René Descartes sobre o bom senso, pode-se dizer que o mau-gosto também é a coisa mais bem repartida do mundo. A única diferença é que, ao contrário do bom senso, poucos admitem que o tem.
Por minha vez, continuo fiel aos meus princípios e lendo só aqueles que admiro, por diversas razões, verdadeiramente, procurando com eles aprender, contribuir e retribuir. Portanto, vão meus abraços a: Ao Mirante, Nelson!; Puragoiaba (esses, para mim, são os pais da matéria!); Grimorium; Cadernos Grampeados; Outros Dias; Versos Ofídicos; Mundo do Pop Zen; Blog do Juca; Blog do Tas; Porra, Bicho! e, claro, Pindorama F.C. - esse é meu também, mas eu gosto desse outro cara que escreve lá.