Meu Coração anda descompassado. Parece que vai sair pela boca. Acho que é aquela velha brisa voltando, só que de cara nova. É tão bom que esteja assim...
O problema é que, na intimidade de minha governança, meu Cérebro, um Ministro da Defesa austero e conservador, continua em conflito com ele. Parece que nunca vão chegar a um acordo satisfatório, a um armistício promotor da paz interna.
Enquanto isso, fico entre os portentosos golpes que desferem um no outro e acabo me defendendo, mesmo sem querer. Graças a isso, a dissonância cognitiva róe-me, por dentro, ao parir, em mim, a incerteza. É difícil decidir assim. Vejo, percebo e sinto muitas coisas de um ângulo incerto. Assim, ouso quando deveria recuar, recuo quando deveria ousar e, mesmo agindo, permaneço estático, sem avançar o quanto gostaria. É um acordo difícil de estabelecer, um equilíbrio distante. Não sei quando vou conseguir.
O primeiro, arauto da minha intimidade, quer divulgar decretos novos, mandamentos para um novo governo, suave e arrebatador. Argumenta serem imprescindíveis diretrizes condizentes com um novo tempo de promoção da liberdade para a manifestação plena da delicadeza, a fim de que meu reino se encha de estesia e significado. O segundo, intimida-me com sua coerção ideológica e suas análises críticas sobre meus postos de fronteira, dizendo ser todos frágeis e desprovidos de dados dos imigrantes que pretendem - ao que parece - entrar. Outro dia disse-me: "Toda brisa principia um furacão. É preciso ter cuidado!". Meu Coração, por outro lado, afirma-me: "Todo furacão saneia o ar, tornando-o agradável. É imprescindível se arriscar!"
Eis meu imbróglio diplomático. Meu paradoxo interno. A quem ouvir? Não sei. Ainda não sei. Mas saberei, em breve.
Porém, penso: "O que pode haver de errado com meu Coração e sua agradável proposta?" Preciso de mais conselheiros, gente de minha confiança ao meu lado, nessa hora. Por isso, caro leitor, pergunto-lhe: "O que há de errado com meu Coração?"